Na semana passada, um dos assuntos comentados nas redes sociais foi o Clubhouse, novo aplicativo de mídia social que funciona com a postagem de áudios e está bombando em acessos.
Funciona assim: para participar, você precisa ser convidado por uma pessoa que já seja membro, e tem que possuir um iPhone para chamar de seu, uma vez que o app ainda não está está disponível para Android. Depois de entrar para este “grupinho seleto”, pode acessar salas virtuais onde rolam conversas ao vivo, numa espécie de podcast interativo.
O bate-papo é sempre mediado por um anfitrião (host) e os outros participantes precisam levantar a mão, virtualmente, para poder enviar mensagens de voz. Então, dá pra dizer que é parecido uma vídeochamada de Zoom, usando apenas voz. Um dos atrativos do Clubhouse, nesse momento, é contar com a presença de celebridades como Elon Musk, Caetano Veloso e Anita.
A técnica da falsa escassez, ao que parece, sempre dá certo. Em menos de um ano, desde sua criação em 2020, o app já atraiu mais de 2 milhões de usuários, recebeu injeções de capital, e está sendo avaliado em 1 bilhão de dólares.
Segundo uma matéria da CNN, os fundadores do negócio, Paul Davison e Rohan Seth, disseram que seu objetivo com o Clubhouse “era construir uma experiência social que parecesse mais humana – onde em vez de postar, você pudesse se reunir com outras pessoas e conversar.”
Uma ideia simpática, mas que esbarra no fato de que o aplicativo de áudio não dispõe de recursos de acessibilidade para surdos. Então, a tal experiência social não é viável para 500 milhões de humanos com deficiência auditiva.
Paula Pfeifer –ativista que comanda o projeto #surdosqueouvem e o perfil @cronicasdasurdez — falou sobre a questão e foi direto ao ponto. Confira abaixo os posts que fez no Instagram.
Sandyara Peres, que é desenvolvedora e pesquisadora de acessibilidade digital, criticou a rede social por conta da ausência de acessibilidade, coisa comum em projetos de startups. Quando a acessibilidade não é pensada desde o começo da iniciativa, é muito mais difícil, e caro, implementar as mudanças depois. O resultado disso é que apenas 1% dos sites brasileiros são totalmente acessíveis para pessoas com deficiência.
Veja as imagens abaixo, e o conteúdo completo no fio no Twitter.
Já Gustavo Torniero –jornalista, ativista e secretário de juventude da @oncbnarede, que é cego– relatou a impossibilidade de interagir numa das salas de conversa do Clubhouse, por falta de acessibilidade para leitores de tela.
A acessibilidade não deve ser encarada como algo que diz respeito apenas a pessoas com deficiência física, visual, auditiva, múltipla e intelectual. Ela diz respeito a todos. Afinal, a maioria dos resultados das adequações acessíveis, seja em ambientes, produtos e serviços, traz benefícios para toda a comunidade.
Um site ou aplicativo de internet bem projetado e codificado, terá um design flexível o suficiente para se ajustar às necessidades de todos os tipos de usuários. Quanto ao Clubhouse, é de se imaginar que se a equipe de desenvolvedores incluísse pessoas com deficência auditiva, o design do app seria bem diferente.
Mas a falta de acessibilidade não é o único problema. Segundo Thássius Veloso –jornalista de tecnologia que edita o TechTudo e integra o time do podcast de tecnologia da CBN– o Clubhouse têm problemas sérios de privacidade. Não vou entrar em detalhes aqui, porque o foco deste texto é a questão inclusiva, mas você pode ouvir a avaliação dele no Spotify. De antemão, aconselho aos interessados no Clubhouse a ler os Termos de Uso e a Política de Privacidade, antes de aceitá-la. #ficaadica. De resto, é esperar para ver qual será a atitude do Clubhouse daqui em diante.
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