Se há tempos o povo da moda revela um certo cansaço com a apresentação das coleções no formato de desfile, a pandemia do SARS-CoV-2 foi a força motriz que faltava para a mudança.
Desde fevereiro de 2020, quando o alarme sobre o espalhamento da Covid-19 começou a soar, até janeiro de 2021–mês em que costumam acontecer os desfiles de Alta-Costura em Paris–, grandes marcas, no mundo todo, passaram a buscar alternativas para o desfile presencial. E a Dior, que há tempos produz filmes de moda memoráveis para promover seus artigos de luxo, decidiu investir em mais uma criação cinematográfica para apresentar a coleção Dior de Alta-Costura Primavera-Verão 2020-2021.
O curta-metragem Le Chateau du Tarot, dirigido por Matteo Garrone, coloca em cena uma mulher em busca da própria identidade. Num percurso labiríntico e simbólico por um castelo medieval, ela interage com alguns arcanos do tarot: a Sacerdotisa, a Temperança, a Justiça e a Morte.
O clima de fábula onírica é reforçado pelas roupas luxuriantes, pela direção de arte impecável, e pela boa atuação da atriz franco-italiana Agnese Claisse. Assista.
Primeiro segredo: o tarô de Christian Dior
Pouca gente sabe, mas o tarô faz parte da história pessoal de monsieur Dior. Durante a Segunda Guerra Mundial, sua irmã, Catherine Dior, que fazia parte da Resistência Francesa, desapareceu. Ela foi presa pela Gestapo, levada para o campo de concentração feminino de Ravensbrück. Depois, foi tranferida para a prisão militar de Torgau e, finalmente, obrigada a trabalhar numa fábrica em Leipzig.
Segundo Maria Grazia Chiuri, atual diretora criativa da grife, foi nessa época que o estilista conheceu o tarô. “Acho que ele estava tão assustado com a situação da irmã, que provavelmente recorreu às cartas de tarô para ter esperanças de que ela voltaria”.
Depois da libertação, em 1945, Catherine recebeu várias medalhas de honra pelos atos de resistência. Detalhes desse período estão prestes a ser revelados em um livro escrito por Justine Picardie –editora chefe da Harper’s Bazaar inglesa– que deve ser lançado em breve.
E foi num outro livro que Maria Grazia Chiuri encontrou inspiração visual para a coleção. O romance de Italo Calvino, “O Castelo dos Destinos Cruzados”, fez com que ela ficasse fascinada pelas cartas de tarô Visconti-Sforza, criações excepcionais que datam do século 15.
No vídeo abaixo, Roger S. Wieck, chefe do departamento de Manuscritos Medievais e Renascentistas e curador da Biblioteca Morgan em Nova York, relata a história do tarô Visconti-Sforza. O baralho, que tem o nome de duas das famílias mais nobres de Milão, foi encomendado como uma demonstração de prestígio e, curiosamente, não tinha nada a ver com esoterismo.
No próximo vídeo, você fica sabendo um pouco mais sobre o interesse de Christian Dior pelas artes divinatórias.
Segundo segredo: a manufatura preciosa da coleção Dior de Alta-Costura Primavera Verão 2020/2021
Um dos fundamentos da Alta-Costura é a utilização de técnicas manuais refinadíssimas, que nem sempre se consegue perceber ao assisitir a um desfile ou vídeo. Para criar as roupas estupendas que vemos na passarela, as Maisons francesas, muitas vezes, recorrem ao savoir-faire de artistas e pequenos ateliês de costura. Confira, abaixo, dois exemplos disso na coleção Dior de Alta-Costura Primavera-Verão 2020-2021.
Vestido A Protagonista
O especialista Jean-Pierre Ollier foi escolhido por Maria Grazia Chiuri para recriar uma magnífica técnica de découpage veneziana, original do século 18, para o vestido “A Protagonista”. Conhecida como “lacca povera”, essa técnica usa motivos serigrafados que são pintados à mão, aplicados ao tecido e, finalmente, bordados. Maravilhe-se!
Vestido Miss Dior
O emblemático vestido “Miss Dior” apareceu com uma nova silhueta, em dourado fosco, com um sutiã corseletado, roletês de tecido levemente envelhecido, e aplicações de flores cuidadosamente bordadas e franzidas. O Atelier Paloma foi o responsável pelo trabalho primoroso, que consumiu 800 horas!
Deixe um comentário